Eu queria ter uma idéia brilhante e escapar de você. Eu queria ter uma idéia brilhante e nunca mais escapar de você. Eu queria ter uma idéia brilhante sobre como inventar dias leves e alheios. Queria acreditar na brilhante hipótese de não mais não querer o que insistem em me dar.
Sobre mim quase não falo, mas também não invento. Meu incômodo é mais claro e embaraçoso que tudo o que me convence. O que não gosto não muda, enquanto a condição do que me agrada não oferece certezas finitas; sou mesmo somente minha e o que as pessoas querem de mim, eu dou. Eu não finjo, garanto que não. A confiança que ofereço é mesmo para ser oferecida; não há esforço algum em ser a surpresa que sou a qualquer um que não seja eu. Faz sentido. Não há quem não tenha em si mesmo algo que não lhe sirva. Não reparto minha tristeza, não saberia. Raramente me lamento perante outros, e se o faço, rapidamente arrependo - me por ter desapontado os que dependem da minha abundância. Não sei fazer de conta, por isso desapareço do convívio das pessoas com certa freqüência; minha solidão não sai de casa para dançar, não comemoro o meu desamparo. Gosto de chorar e remoer pesares e falências enquanto não durmo. A tristeza pela tristeza me interessa. Tudo em mim é muito e depressa. Sei que meu desassossego incomoda e cansa os que passam, mas gosto assim, por mim eu nem dormiria. Sei quando sirvo, sei onde caibo. Só é pena não caber em alguém que caiba em mim. Alguém que me baste por saber sobre mim o que eu mesma já sei. Eu só caberia em alguém que percebesse e compreendesse tudo o que aparentemente não sou. Preciso de alguém que perceba minhas piores vergonhas e que, comigo, somente divida as malícias do corpo. Alguém que me coma com a intimidade silenciosa e rara dos defeitos. Um olhar perigoso e suspeito, como deve ser o meu o meu. Certezas bastam as minhas.
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