eu quero o amor que mata
17/03/2017
Sarjeta
11/10/2015
Galápagos
14/03/2015
vida própria
20/01/2015
o rio
06/07/2013
um desenho ou o que aconteceu depois
03/06/2013
halley, número três
28/01/2013
do tamanho do amor
08/01/2013
a saudade
11/07/2012
para não acabar
07/01/2012
janeiro
procurando em outro lugar o que deveria encontrar em mim, me perdi numa calçada quente de verão. ouvi dizer que algo bom existia lá no fim de tudo, lá onde acaba o resto de cansaço pronto pra desistir, porém já não acumulo esperanças. ouvi um grito esta noite e acordei, pensei que me chamavam, mas era apenas mais um pesadelo não meu, sonho longínquo de quem espera alguma coisa, qualquer coisa. a vontade de sempre é a de fazer tudo em outro lugar, de cometer um delito inédito num futuro que poderia ser hoje. não descanso, não comemoro, não dou voltas em torno de ninguém do qual eu não possa fugir depois. estou às tontas acordando e dormindo num sábado de sol farto de possibilidades que não quero. pensei em contar outra história, mas na curva de agora despenquei como em tantos passados - repetição barata e sem credibilidade. eu poderia estar cantando debaixo do chuveiro e depois sair pra passear, mas me falta o inferno a queimar sem desistência ou retorno, me falta esta febre ir embora e voltar nova no meio das pernas, ao redor e no meio das pernas. que estas vozes que escuto venham o quanto antes assoprar algum calor recente em meu pescoço de pele fina e estrangulada de novidades vãs, que não vão embora, que não partem nunca.
16/11/2011
o menor nome do mundo
09/10/2011
para esquecer
29/09/2011
o mapa do mundo
25/06/2011
o gigante azul
23/03/2011
a ponte
05/02/2011
o fim das coisas que não nascem
23/01/2011
eu não sei voltar
24/10/2010
palavras passageiras
27/09/2010
breve história possível
25/09/2010
do desencontro
24/09/2010
no deserto
19/09/2010
ausência
01/09/2010
livre arbítrio
09/08/2010
o perigo
25/07/2010
fábula para entender o amor
24/07/2010
as coisas não têm paz
22/07/2010
de novo para sempre
02/07/2010
tempo nenhum
me deparei dia desses com um pedaço grande de passado, desses que passam sem passar para sempre. passado demorado e culpado - a culpa é outro elemento bastante familiar quando se trata dos dias que não resolvemos direito, ou que pensamos ter resolvido errado. quando isso acontece o futuro vira esmola barata, porque a tristeza incerta balança dentro da gente, insiste, remoe, não perdoa.
nunca estou onde pareço estar, isso é um fato. lembro muito, calculo, refaço as contas. e, quando não volto, avanço. o presente, torço para que acabe logo. sem perceber não crio vínculo com a realidade, não com essa que nos faz ter a exata noção do que se faz, se é, se quer. não tenho uma só frase inteira pra designar o agora, nunca tenho. finjo surpresa e simulo esquecimento enquanto ganho tempo pra pensar, mas não estou aqui nem em lugar algum que não sejam em minhas lembranças ou planos. é um tempo esquisito, mas o único que me atrai. meus flertes com a realidade não passam de ficção, invento que entendi, quando na verdade não existe lucidez alguma - nem no passado, nem agora, nem depois.
30/05/2010
sentimento
18/04/2010
o amor é um número
24/03/2010
confusão, cabeça e coração
21/03/2010
sobre o que vem por último
19/02/2010
desvarios reais
10/01/2010
de novo agora
03/04/2009
o papel branco ou nenhuma razão para isso
tudo começava bem lá atrás, com letras miúdas e lentas, perto da desistência. depois foi em frente e as letras se agigantaram e se enfeitaram para ninguém. se podia contar tudo, fosse como fosse, ia acabar falando a mais, corrompendo o papel branco com tamanha irresponsabilidade. falar a verdade, só se for assim, pensou. só se for assim. e acabou contando tudo.
vieram os grandes fatos, não aqueles que acontecem num dia ou numa noite, mas aqueles que se somam e viram um, se apoderam de contar o que tem dentro. para esses não existem invenções, a cabeça insiste, vai e volta sem sossego e não permite a ausência de um encontro.
de madrugada, lembrava e acumulava frases para o dia seguinte, o papel branco ia ficando menos branco e menos novo. o tempo se encarregava das imperfeições, é sua promessa, sempre foi.
não existia mais vida útil fora dali, nada mesmo interessava e toda conversa se tornava descabida. não havia tempo, a não ser aquele usado para contar em palavras. tinha mesmo decidido parar de esconder e, junto com isso, precisava também lembrar, e como era difícil lembrar. sempre havia tentado escapar e fugir, tanto que em certo momento pode perceber a falta de clareza que havia em comentar vida e passado próprios. tinha feito de propósito. tanta coisa mal feita e perdida tinham feito crescer uma culpa inventada e pesada. mas agora havia descoberto que podia dizer se não precisasse ser abrindo a boca, e aquele papel branco era a solução confortável. precisava de uma solução e havia diposição para isso. e assim foi, sem regras – e não sem se perder – que tudo foi existindo de novo, podia agora olhar sua própria vida e história de forma que tomasse conhecimento dos motivos insinuados. nunca teria certeza, isso sabia e por isso continuava, imaginar era mesmo uma aventura muito melhor.
depois o tempo parou de passar. as palavras continuavam pulando e a falta de sono permitia que culpa, medo, passado e razões perdidas se tornassem inimigos menos incovenientes. é melhor não nomear sentimentos que vão sem ir, é melhor a amplidão de possibilidades, um susto diferente a cada pedaço caído de lembrança. pode-se dizer que o melhor mesmo seria não pensar mais, mas parece que a vida é algo que se sente só depois e, sendo assim, é melhor guardar.
06/03/2009
bons ventos
06/01/2009
sendo
19/12/2008
a verdade provisória
inferno
em qual lugar desse meu corpo tolo e desconhecido eu sepultei a alegria suspeita que me rondava vermelha e voluptuosa e que agora, invisível e intocável, não encontro mais aqui. vou olhar em volta, desarrumar a casa e as roupas e investigar os cantos e a poeira que se formou desde que inventei sentir este inferno que é querer demais e que, ao primeiro encanto, me confundiu e me convidou a mais pura e plena felicidade insinuada. mentira. invenção. eu esperei, é certo, desejei e fiz planos para o nada vazio e secreto aqui, bem aqui, posso mostrar onde. mas o vulcão desejado e imprevisto me dá e me tira e depois me dá e depois me escapa e foge e não diz se volta para deitar em minha cama, rasgar tudo de novo o que em mim já se abriu e não tem volta. não, não saia de mim, inferno cobiçado e adquirido, mas me povõe também por espaços maiores de tempo, cause-me enjôo, faz-me cansada e absolvida. estraga logo a minha vida, me corrompa, faça isso, já arranquei todos os cabelos do meu corpo suado e este calor só aumenta e fervilha meus odores, os piores e mais sinceros e obscenos, e este amor que de tanto insistir me extasia e me machuca e me deixa aqui plantada e oferecida para nada me trazer. oh, inferno feito em brasa e rodopios, vêm e arranca-me do exílio, me dê mais disso que te peço e te imploro de joelhos e prometo que não vou mais descansar, eu não quero descansar. não dê palpites ou conselhos, não preciso, e não perdôo se você não me alterar. é um castigo ter meu corpo tão entregue ao travesseiro e a cama agora dura me incomoda esperando tais sussurros no plural. mas sua chama me conhece a este ponto e me tortura sem desconto ou gratidão. é um disparate ter os males e os bens num só lugar.
14/12/2008
aniversário
melhor morrer como fugir.
tamanha a indelicadeza de viver.
07/12/2008
a insanidade
29/11/2008
veneno
27/11/2008
a m o r
18/11/2008
eu tenho planos pra você
tudo meu ainda está aqui, quero de novo te emprestar, posso me dar por horas longas, não precisa devolver, minhas noites te esperam, pode vir sem avisar, vêm pisar tudo de novo, escrever em meus cabelos, encostar seu peso quente e querer me machucar, todo antes foi embora, o meu corpo agora é outro e o meu passado bem pequeno, tenho os poros remexidos e um cheiro que não sai, minha pele se rasgou, já não existe mais sossego, em meu sono afasto as pernas, me assanho em pensamento e quase grito sem gritar, vou fugir pra te buscar, te trancar dentro de mim, me esfregar em seus desvãos sem descansar ou me ausentar, tráz teus pelos, teu pescoço, tua boca e este inferno que não posso adiar, já molhei toda minha casa, me apertei contra parede, repassei cada pedaço, mas é pouco, eu preciso me afogar, traga-me seus dedos, pode entrar e me roubar, estancar entre minhas coxas o meu sangue oferecido e me apertar, volta, vêm me machucar, vou cochichar em seu ouvido meus pedidos e vontades, meu corpo não aceita essa demora e sai em busca toda noite procurando o seu suor, tudo em mim só quer voltar, repetir, continuar, vou te enforcar com minhas mãos, te trazer de volta a tona e pedir mais, te devolvo então meus seios pra você fazer de novo e inventar novos motivos pra querer me machucar.
09/11/2008
o dia em que não fui mais embora
houve um dia em que decidi acabar, terminar para sempre. eu já não precisava de mim para me acompanhar, as coisas continuariam, o mundo não se acabaria e o pequeno pedaço que sou não atrapalharia a ordem das coisas. saí no meio da noite, a escuridão me esconderia melhor, o que me pouparia de calcular o meu medo. mas era um medo sem nome, sem cheiro e sem pernas para correr atrás de mim. mas existia. e sua presença todos os dias em minha vida incentivou-me a deixar de ser e existir. eu já me sentia cansada em ser uma pessoa com medo, eu já nem era uma pessoa, não sentia ser. minha carne resistia, não queria abandonar tão belo mundo interrompendo seus desejos. mas os pensamentos se atrapalhavam trêmulos pelo medo sem nome. parti. levando comigo meu corpo triste que queria ficar. no terceiro dia de nosso caminho o meu corpo adoeceu e caiu de cama numa estrada barata e medrosa, tornando inviável qualquer passo que minha cabeça quisesse dar.
se for para voltar eu posso ter forças, mas, se continuarmos, morreremos, disse meu corpo para minha cabeça. se você tem medo eu tenho outras coisas, disse ele, e se você desistir e voltar eu posso fazer você feliz e você vai poder balançar seus cabelos e nenhum susto vai te incomodar além dos que vou te oferecer.
minha cabeça cansada e com medo não compreendia as promessas do corpo e o pediu que explicasse melhor.
você, disse o corpo, você é a minha cabeça e não é possível que nada tenha chegado até aí além de seu medo sem nome nem calor, aqui em minha garganta estão as palavras que eu preciso voltar pra buscar e dizer e ficar sem ter que partir. tenho em mim um odor espalhado, um inferno de coisas para experimentar e poder viver pelas noites e noites e nunca enjoar. se você, pobre cabeça, não puder entender, é porque não és minha assim como não posso te pertencer. em meu pés juntam-se coisas, acumulam-se prazeres e dores que você nunca sentiu. você recusou meus alívios e gritos e meu querer mais. eu quero mais, e se você não quiser nós morreremos os dois e eu nunca te perdoarei. não me deixe doente e pense outra vez. quero viver este inferno do amor que transborda em meu corpo e arrepia os meu seios e pelos sutis. se você concordar você vai me entender, pois sabemos que você é quem manda. saiba, cabeça minha, que tudo o que vi e senti foi pouco demais pra nós dois. vamos voltar, eu te empresto minhas pernas, pinto meu rosto que é nosso e depois podemos dançar. vou te enviar pelas veias mensagens históricas que tenho gravadas aqui, em meu solo tão fértil e barrento estão enterrados amores de ontem que escondi pra te dar. vai ser tudo nosso. tenho um milhão de saudades e posso dividí-las com você para que adormeça pensando nelas, e quando isso acontecer, quando você aprender a comer minhas lembranças, você entenderá e também vai querer mais para poder viver lembrando. porque eu, sozinho, cabeça querida, não tenho passado nenhum para buscar. eu preciso de você pra alimentar minhas cobiças, prolongar minha esperança em ter dentro de mim o que precinto e sei de cor. vamos comigo, roçar nossos cabelos em meu pequeno passado e depois ficar lembrando e se molhando enquanto lembra.
e a cabeça sem ternura anterior aceitou dar meia volta, em silêncio e sem medo não quis mais ir embora.