21/05/2008

fina Flor

OLHOS SECOS E INFANTIS ERA O QUE VIA NO ESPELHO EMBAÇADO DO BANHEIRO DE AZULEJOS AZUIS. OS CABELOS AINDA MOLHADOS ESFRIAVAM O CORPO NU. UMA INCERTEZA LATENTE TRATAVA DE LHE ESQUENTAR OS PENSAMENTOS E CAMBALEAR SUAS PERNAS UMIDAS E MEDROSAS. A VONTADE ERA DE ENCOLHER-SE NO CHÃO FRIO E ADORMECER, IGNORANDO A ANGUSTIA DAS SENTENÇAS. OS MINUTOS INSISTIAM COM ARROGANTE RAPIDEZ. NÃO ERA O MOMENTO AINDA, ESTAVA VAZIA DE CONVICÇÕES E SE PUDESSE ESCOLHER GOSTARIA DE PODER DERRETER NAQUELE CHÃO DE BANHEIRO. QUE AGONIA NÃO TER SALVAÇÃO, PENSAVA, QUE MISÉRIA NÃO TER ESCOLHA. SE ADIANTASSE GRITAR A DEUS, GRITARIA. PEDIRIA ABRIGO, ACONCHEGO E IMPLORARIA POR UMA RESPOSTA EXATA. MAS DEUS JÁ NÃO OLHAVA POR ELA, ACREDITAVA. TINHA NOÇÃO DE SUA VIDA SEM MILAGRES E DE TODAS AS UTOPÍAS VAZIAS DE ALÍVIOS REPENTINOS. SUAS MÃOS SOZINHAS DESTRANCARAM A PORTA DO BANHEIRO. VAGOU PELA CASA MAL ILUMINADA, ABRIU A JANELA E GOSTOU DE VER QUE CHOVIA, TALVEZ POR AQUELA FALSA SENSAÇÃO DE QUE A CHUVA NOS PERMITE ADIAR OS COMPROMISSOS. ENGANOU-SE MAIS UM POUCO. VESTIU-SE SEM ÂNIMO E SE IRRITOU POR NÃO PODER APAGAR GESTOS BÊBADOS E DIAS MAL FEITOS. LÁ FORA, O ESPANTO. DEPOIS DA PORTA A VIDA ESCANCARADA EM MÃOS FUGAZES, SEU NOME DOCE DE PRINCESA ROLAVA NO BARRO SUJO DAS MENTIRAS. JÁ NÃO VALIA OS DEDOS DAS MÃOS, NÃO VALIA UMA VIDA DADA. E ERA TÃO LINDA, TÃO DESLUMBRANTEMENTE LINDA. COXAS VIGOROSAS ESQUECIDAS PELA ESCOLHA SÃ DE UM DIA TER QUERIDO MAIS, TER SE OFERECIDO MAIS. A CULPA ERA A DE SER PECAMINOSA, NOS GESTOS, FRASES E QUADRIS REBOLATIVOS. SEUS VESTIDOS JUSTOS ENTREGAVAM SEU TALENTO, SEU DELÍRIO VIL E SANTO DE SER UMA MULHER VASTA DE OLHOS GRANDES E CONVIDATIVOS. ADORAVA TODA SUA DELÍCIA, SABOREAVA-SE A SI MESMA QUANDO SOZINHA FREMIA PELA RUA E, SEM QUERER, PROMETIA FUTUROS FELIZES A HOMENS SEM QUALIDADES. E COMO DANÇAVA! ESTICAVA AS PERNAS DE MANEIRA EXATA, OS BRAÇOS VARRIAM AMBIENTE E OLHARES. NÃO HAVIA ESCOLHIDO TAL ROTEIRO, OS DIAS APENAS FORAM PASSANDO E, PRINCIPALMENTE, AS NOITES. TINHA FASCÍNIO PELO CAIR DA TARDE: O CÉU DIMINUINDO E A VASTIDÃO DE POSSIBILIDADES NA PENUMBRA. ELA PRÓPRIA ERA UMA PENUMBRA DUVIDOSA QUE NÃO ESCLARECIA DE PRONTO. ERA PRECISO VASCULHAR, ARRANCAR SEGREDOS E MENTIRAS DE BOCA TÃO BEM FEITA. OS LÁBIOS, UM ATAQUE. SUA SALIVA PARCA EXPULSAVA FRASES ENCANTADORAS A SERES DISPOSTOS E CRÉDULOS DA FELICIDADE PROMETIDA UM DIA, NUM LIVRO OU NUM HORÓSCOPO VELHO E CHINÊS. E LAMBIA OS DEDOS COM DELÍCIA DE PRIMEIRA VEZ, SORRIA ENFEITIÇADA POR SER ASSIM TÃO PURAMENTE CHEIA DE BONDADE PERIGOSA. ERA UMA BELA BUNDA E MUITO MAIS. TINHA O DOM DE ENLOUQUECER A VIDA ALHEIA, DE RECHEAR DE BOAS NOVAS VIDAS OCAS E PERAMBULENTES.

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