21/05/2008

A fuga

Não sei como se deu, quando percebi nada daquilo estava mais em meu coração. Desconfio que deve ter saltado de dentro de mim enquanto eu dormia. O que posso afirmar é que não está mais aqui aquilo tudo, é como se nunca tivesse estado, me pertencido e me atormentado. Estou aliviada, é certo, implorei inúmeras vezes para que me deixasse, mas não assim, a seco, sem sequer um último arrepio. Sentimento ladrão. Roubou-me o sossego e muitas noites. Hóspede ingrato e traiçoeiro é o que és. Deleito-me com sua ausência tão desejada, mas quanta deselegância fugir assim depois de tantos anos! E não me venha falar de amor, praga estúpida! Não me faça visitas nem por um segundo, se vier te enforcarei, já comprei uma corda. Nunca mais passaremos um natal juntos e meus anos serão novos e limpos. Tomara que o tempo te arraste por anos incessantes, sentirá as agruras da prisão, o inferno de não se pertencer. Seus ouvidos servirão para chantagens vis. O tempo inescrupuloso não te soltará, te arrastará pelos teus próprios caminhos, teus olhos se arregalarão ao ver tua própria estupidez. Entenderá então seu inexistente significado, e se entristecerá ao descobrir seu pouco tamanho. Sentirá tristeza! E sentirá tudo de uma só vez, altas doses de tristeza acumulada ao lado de todas as outras sensações intocadas. Não sou dada a vinganças, não é realmente de minha natureza, tenho preguiça, mas me delicio com a vida longa que terá pela frente. Não esquecerás meu rosto, enquanto eu, dentro de instantes não lembrarei mais de ti. Te apagarei.

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