29/11/2008

veneno

a porta abria e fechava, num esforço maior em deixar algo entrar. era o vento e era o cheiro e um barulho que invadiam a casa, os travesseiros e os lençóis. havia uma desordem e um abandono triste de noites quentes sem razão ou companhia. apenas um copo, um prato, uma toalha e um único corpo, ofegante e sem par. uma casa cega e sem novidades, era assim agora o meu lugar. o passado ia e vinha, em delírio eu enxergava algum futuro próximo e engolia goles grandes de água limpa pra espantar o meu calor sozinho e não perder os sentidos que ainda me salvavam. a porta continuava a abrir e depois fechar, num ruído irritante e inútil. nada chegava em minha casa agora inabitável e com saudade. eu pensava em buscar, trazer de volta e voltar a abrir os olhos para ver então seus olhos em cima de mim, em volta de mim. seus olhos entrando em mim sem adeus. pensava em suas mãos tão brancas e minha saudade cortava-me outro pedaço. imaginava, repetia seu nome aos gritos, dormia e sonhava de propósito com você. ninguém me ouvia, eu não tinha salvação. a saudade me envenenou, me afastou daqui para sempre e nunca mais te vi.

Um comentário:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.