02/07/2010

tempo nenhum

pensar no passado é um pouco terminar pra sempre, desparecer numa história que já nem parece própria e que se assemelha mais a um coxixo alheio e distante. mas é um assunto que me ronda e, vez ou outra, passa a noite comigo. mesmo que seu fardo seja sempre ficar para trás, o passado, por vezes, se ocupa dos motivos errados e nos faz cogitar reparos e retornos insanos. é um pedaço estranho de tempo que todo dia já não nos pertence mais e sempre nos faz sentir um pouco fracassados. por mais brilhantes e ternos que tenham sido os anos e anos afoitos contados na história, sempre nos incomodará recolher lembranças íntimas que desesperadamente nos atingem com os entornos dramáticos que adquire tudo aquilo o que deixa de existir.
me deparei dia desses com um pedaço grande de passado, desses que passam sem passar para sempre. passado demorado e culpado - a culpa é outro elemento bastante familiar quando se trata dos dias que não resolvemos direito, ou que pensamos ter resolvido errado. quando isso acontece o futuro vira esmola barata, porque a tristeza incerta balança dentro da gente, insiste, remoe, não perdoa.
nunca estou onde pareço estar, isso é um fato. lembro muito, calculo, refaço as contas. e, quando não volto, avanço. o presente, torço para que acabe logo. sem perceber não crio vínculo com a realidade, não com essa que nos faz ter a exata noção do que se faz, se é, se quer. não tenho uma só frase inteira pra designar o agora, nunca tenho. finjo surpresa e simulo esquecimento enquanto ganho tempo pra pensar, mas não estou aqui nem em lugar algum que não sejam em minhas lembranças ou planos. é um tempo esquisito, mas o único que me atrai. meus flertes com a realidade não passam de ficção, invento que entendi, quando na verdade não existe lucidez alguma - nem no passado, nem agora, nem depois.

2 comentários:

laura caselli disse...

sobre seu título que a gente nunca conversou, gosto da idéia (não concordo com o acordo) de morte se for pra renascer -sei, piegas-. se for pra se reiventar, assim como a gente inventa o presente. porque do real, sabemos apenas versões. ou não?

ivana debértolis disse...

ou sim.
eu quero amor que mata. não quero o morno, o leve, o devagar.