depois de tanto se repetir, arriscou se comportar de forma diferente, quase alheia e, honestamente, quase sem conseguir. pôs-se a se esforçar, e enquanto caminhava ouvindo sempre a mesma música alta, fazia promessas a si mesma de superar erros fúteis transformados em cobranças que não paravam de chegar. quem sabe debaixo daquela velha sombra calma que sempre ignorou não poderia encontrar enfim um modo digno de continuar sendo quem sempre foi, estabelecendo apenas meios menos insanos. mas gostava da insanidade, do que era errado aos olhos suspeitos do mundo real. porém, começara a entender que fugir do mundo real era mais desesperador e cansativo do que tentar adaptar-se a ele. na verdade não tinha certeza se realmente começara a entender as coisas assim, de todo modo estava disposta a fingir que sim. e tentava, arduamente, dia após dia, reconhecer-se no caminho diferente que se propunha. sabia que poderia cair em desgraça a qualquer momento, as ocasiões eram sempre perfeitas para isso. e então sorria e, cabisbaixa, meneava o olhar para um lado, depois para o outro, disfarçando o impossível. era dela aquele estado das coisas; seus pelos, pele e cabelos já estavam há muito inundados por aquele jeito eloquente que, sem pereceber, havia construido sem muita calma. sabia o quão penoso era ser quem era. sim, era divertido, era uma grande história sem duvida, mas pesava. pesava o peso da inconsequência e do calor que esta sempre tráz. gostava assim, era um alívio se perder, mas os benefícios, pouco a pouco, estavam se tornando menores e inúteis e, sendo assim, precisava abordar outras possibilidades de prazer. fez uma aposta alta consigo mesma e pediu algo em troca, algo bom e grande, algo que provocasse nela os arrepios de outrora, só mudando os meios de sentí-los. mas só valeria se fosse assim, não se transformaria por menos que isso, de graça não poderia ser. porque sempre queria mais, e em seus devaneios diários acreditava merecer.
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