01/09/2010

livre arbítrio

não vou mais espalhar meus enganos. tratarei de apagá-los tão logo os identifique. a vergonha de deparar-se com o que já não se sente ou nunca existiu, não pode durar tanto assim. agora eu mesma escolherei os fins, mudarei de assunto e excluirei toda memória apodrecida. não posso mesmo apalpar minhas invenções e, sendo assim, opto pelo abstrato. vou fugir por uns dias, perder de novo o controle e abandonar de vez esta mania obsessiva de construir razões e sentimentos passageiros. passei um bom tempo presa ao que inventei esperar e existir, portanto vou me distrair dos motivos errados que escolhi vasculhar, remexer. sou vã, sempre fui. não possuo finalidades e posso mentir toda mentira do mundo e acreditar em instantes que não quero mais que durem. o tempo passou tão rapido que mal consigo visualizar e enumerar o absurdo de acontecimentos recentes. me coloco agora onde nunca estive ou quis estar - no começo. me reinicio na esperança de anular o passado confuso e invisível. não quero pegar em nada nem ter nada que se obtenha através de planos. não posso mais cair nos buracos vazios que são os meus planos que não acontecem. estou livre. já não peço, não rezo, não faço promessas e nem quero chegar. solto meus pés do chão e me deixo, levemente, sem pesar nem desejo. o querer me cansou, esgotou em mim minhas próprias possibilidades e invenções. estou exausta de meus próprios pedidos e anseios. se nada chega, não vou buscar. garanto que essas palavras representam a desistência em seu melhor sentido. me dou ao nada, e só a ele, por amparar minhas faltas e me confortar.

Um comentário:

Lelle disse...

Cansei da calmaria e do pouco. Não sou mais fracionado apesar de ter você - metade solta no mundo - distante agora. Porém, dentro sempre. Ao ler e amar o texto, eu lembrei deste meu aqui...http://hemlockdiary.blogspot.com/2010/03/homem-ex-fracionario.html