19/09/2010

ausência

e então disse: vou buscar outra maneira. foi, correu riscos vãos e voltou, outra vez, sem nada de novo pra carregar sobre os ombros desejosos de algum peso inédito. quis desistir, mas lembrou que a desistência era evidentemente mais trabalhosa que a continuidade coerente dos fatos. seguiu. experimentava, mudava de idéia, de olhares e de companhia em sua cama cansada. era muito claro o que não servia para si e, para além dos muros, espiava o que ainda não lhe chegara, ansiava novas possibilidades. disfarçava perfeitamente bem, porém, observando de perto, seus gestos pedintes revelavam tamanha espera. entre uma mentira e outra inventava ruídos que nunca chegavam, e quando chegavam era sempre de forma diferente da imaginada. idealizava gemidos e sensações, e solenemente, os aguardava. fingia gostar, sorria demoradamente e prometia baixezas nos ouvidos oferecidos da noite. quem sabe por tanto fingir não acabaria gostando realmente. porém, o que sabia era grande, muito maior do que aquilo que, cinicamente, ensaiava contentar-se. a realidade era que a cada novo enforcamento pouco sobrava, lembrava por dias pequenos e depois dispensava do pensamento. pensava tanto, criava imagens tão verdadeiras que, de tão vívidas, quase não precisava que fossem reais num plano fixo de terra firme e segura. talvez nem quisesse, talvez estivesse enlouquecendo de uma vez por todas a fim de satisfazer heroicamente os que sempre apostaram na loucura como sua única e fatídica salvação. quem sabe não fosse mesmo uma bela idéia entregar totalmente as rédeas da imaginação que sempre a rondara e lhe trouxera benefícios. se era livre, podia também ser insana e sem explicações. e assim, morrer se tornaria simples. e agora basta de aplaudirem, os gritos aqui têm dono e atendem por um único nome.

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