29/09/2011

o mapa do mundo

aqui estou, deitada no meio do mundo, no meio do vento, praticando a distância. já não sei se estou esperando, talvez nem pense nisso, mas a verdade é que houve um barulho novo, bom e inesperado. não sinto frio algum além daquele que sobe lentamente, começando exatamente pelo meio do corpo e ocupando, por fim, o resto todo, desmedidamente. frio que vira calor. em volta tudo fica amarelo, um pouco misturado com vermelho – minha cor preferida. não sei com certeza onde estou, assim como jamais saberei, certamente lugar nenhum pode nos dar este recado. inútil saber certas coisas quando se está no meio de um lugar sem nome, sem passado e sem rostos conhecidos. o mundo é mesmo muito longe. é claro que posso escolher e, como sempre, escolho ficar; sempre dá pra fugir depois, mesmo que não sem dor. que lugar alto este. a vertigem me provoca cócegas e eu rio, rio sozinha aqui do alto. viver é muito extenso e exige tempo e paciência, no mais a gente aprende e se transforma. talvez eu não volte, pelo menos não inteiramente. o tédio foi embora e agora vivo diferente: um novo sentido na língua, uma pontada no coração e as mãos um tanto trêmulas. às vezes assobio pra passar o tempo, finjo que canto alguma coisa, conto os passarinhos e enumero pontos distantes no céu quando é noite. está tudo bem por aqui. é alto, é longe e a vida é somente minha e para mim. quando olho pra baixo sinto medo, por isso estou sempre com a cabeça muito pra frente ou pra cima, tomo todos os cuidados pra não correr o risco de desistir. distância alguma pode me levar pra mais longe do que já estou ou sempre estive. não sinto saudade de nenhuma rua e nem preciso me lembrar, embora eu me lembre, de nenhum acontecimento passado. o tempo custa a passar e eu gosto assim, é sempre tarde do outro lado, posso ver no escuro um olho quase se fechando sem fechar, posso ver aqui do alto quando o dia nasce de cansaço. tantas palavras no mundo, tantas frases ditas tantas vezes e eu não sei como dizer. às vezes grito sem intenção alguma e posso ouvir o eco no vento que volta e refresca. é bonito. enviarei notícias dentro de uma caixinha decorada. quase tudo cabe agora e é bem-vindo. e o mundo, que era grande e longe, agora está mais perto de mim.

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