20/01/2015

o rio

porque entendi que tudo o que eu dizia era uma grande bobagem, agora não digo mais. porque uma montanha me separou do resto, agora não vejo mais. a realidade engoliu meu segredo de ser quem não era nem jamais serei. fico triste, depois fico alegre, sorrio e disfarço a esperança que nunca me serviu para nada. agora espero dia sim, dia não. olho o calendário e calculo o escuro, meus planos estão sempre no mês que já passou, no dia que morreu cedo e revoltado. antes tudo isso me servia para alguma coisa, agora tenho preguiça porque já não devo mesmo esperar, o tempo passou rápido demais no antes que ainda existia, e agora anda lento e sem notícias. eu não deveria  ter começado, mas agora que voltei vou tentar ir até o fim dessas palavras que nem a mim dizem coisa alguma, nem a mim. existe um rio logo aqui ao lado, nas manhãs de sol vou até lá, sento na beira, refresco os pés e espero sentir calor pra ir embora depois. fiz isso a vida toda. amanhã, se o tempo estiver bom, irei até lá novamente, esperar um pouco mais, só pra distrair todas as outras maneiras de se fazer isso. é importante que eu lembre que algumas esperas me valeram alguma coisa, só não posso me conformar com tudo o que veio junto com elas. é mesmo difícil ser grata. um dia desses, que pode ter sido na semana passada ou há sete mil anos atrás, enquanto estava no rio, tive uma ideia que não soube nunca por em prática. arrependo-me diariamente por ter deixado pra trás essa ideia que um dia tive de mim mesma e que agora já olha pra mim um tanto envelhecida, com os olhos perdidos de dor. por aqui tudo vai sem ir realmente, numa volta inacreditável do que parecia ter ficado pra trás ou ao menos evoluído. o mesmo rio, o mesmo sol e o mesmo calor que só me enganam enquanto finjo ser enganada.

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