porque entendi
que tudo o que eu dizia era uma grande bobagem, agora não digo mais. porque uma
montanha me separou do resto, agora não vejo mais. a realidade engoliu meu
segredo de ser quem não era nem jamais serei. fico triste, depois fico alegre,
sorrio e disfarço a esperança que nunca me serviu para nada. agora espero dia
sim, dia não. olho o calendário e calculo o escuro, meus planos estão sempre no
mês que já passou, no dia que morreu cedo e revoltado. antes tudo isso me
servia para alguma coisa, agora tenho preguiça porque já não devo mesmo
esperar, o tempo passou rápido demais no antes que ainda existia, e agora anda
lento e sem notícias. eu não deveria ter começado, mas agora que voltei
vou tentar ir até o fim dessas palavras que nem a mim dizem coisa alguma, nem a
mim. existe um rio logo aqui ao lado, nas manhãs de sol vou até lá, sento na
beira, refresco os pés e espero sentir calor pra ir embora depois. fiz isso a
vida toda. amanhã, se o tempo estiver bom, irei até lá novamente, esperar um
pouco mais, só pra distrair todas as outras maneiras de se fazer isso. é
importante que eu lembre que algumas esperas me valeram alguma coisa, só não
posso me conformar com tudo o que veio junto com elas. é mesmo difícil ser
grata. um dia desses, que pode ter sido na semana passada ou há sete mil anos
atrás, enquanto estava no rio, tive uma ideia que não soube nunca por em
prática. arrependo-me diariamente por ter deixado pra trás essa ideia que
um dia tive de mim mesma e que agora já olha pra mim um tanto envelhecida, com
os olhos perdidos de dor. por aqui tudo vai sem ir realmente, numa volta
inacreditável do que parecia ter ficado pra trás ou ao menos evoluído. o mesmo
rio, o mesmo sol e o mesmo calor que só me enganam enquanto finjo ser enganada.
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