Acredito que o corpo seja o lugar mais espaçoso do mundo. Há de tudo dentro de um corpo, inclusive o que julgamos ter perdido. Dentro do meu, os segredos se fazem maioria. Carrego eu mesma minhas próprias confissões. A intimidade se movimenta dentro de mim. Não há um só pedaço da minha carne que já não tenha levado um susto. Além de mim, somente meu corpo sabe o que nunca ninguém saberá. Em minha saliva estão as indecências que eu adoraria poder gritar pela rua. Meus ossos, por sua vez, tomam conta do que eu preferia não saber, durante o inverno meus ossos doem demasiadamente. Minha boca lúbrica esconde o que quase não consigo disfarçar, considero minha boca a parte mais escandalosa do meu corpo. Com as mãos, aperto as mentiras. Em meu rebolado moram as noites e os pecados que de propósito cometi e gostei. Na parte de dentro das duas coxas, guardo minhas mais bem sucedidas volúpias, que não seriam secretas se fosse possível descrever a delícia de uma lascívia. Meus poucos pelos silenciam minhas saudades, e são os únicos que sabem precisamente o número de vezes que chorei, são muito eficientes. Na pele fina do pescoço grudei minha coleção de delicadezas e algumas lascas de felicidade. Os delitos eu pendurei nos ombros, couberam todos. No meu abrir e fechar de olhos estão as vezes que traí, tenho cílios cansados. Atrás da minha orelha, misturados com os cabelos, estão os segredos alheios que vão diminuindo a cada chuva que tomo, desses eu não gosto. Os meus seios acomodam de maneira irresponsável tudo o que não faço muita questão de esconder, por isso, tenho seios fartos e quase sempre descobertos. A parte de baixo dos meus pés esmagam remorsos, culpas e arrependimentos. No céu da minha boca conservo o gosto amargo das mentiras que contei. O meu lado bravio e indomável é certamente o mais abundante e, para este, eu reservei a minha vasta língua. Pois não há nada que se compare a uma língua úmida; é ali que se encontram os êxtases reais. A minha língua é o pedaço mais importante do meu corpo, é onde eu principio. Os segredos da carne, da minha carne, são valiosos demais para mim e, a língua, abriga o absoluto.
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