25/09/2010

do desencontro

por um instante curto e valioso acreditei ter ganhado um prêmio que sempre pensei merecer. busquei adjetivos que denominassem minha nova condição, fiz planos a médio prazo e sorri vitoriosa com meu encontro tão desejado. visualizei a confusão se afastando, as noites afoitas se despedindo e me aqueci com tão novo calor. assumi, então, que o esperava pronta e bem vestida, sabendo que em uma escura noite ele aconteceria e eu o reconheceria em meio a profusão de acontecimentos que vinha sendo minha rotina de pessoa que procura. já me imaginava coberta de razões, contente por ter sido atendida em meus desejos não confessados. comecei a me preparar para abandonar os gritos e a felicidade passageira a qual me entregava com prazer. sem arrependimentos pelo corpo, sem ter deixado nada para trás e tendo feito absolutamente tudo o que a mim coube, me percebi pronta e decorei um nome só que repetia sem parar por achar bonito e sonoro. me convenci sem maiores esforços a me deixar ser costurada, obstruindo minhas saídas e guardando em mim um rosto só, um único cheiro e motivo. estava decidido, meu amor finalmente exerceria sua função e eu seria adulta e feliz. fui fechando os cortes, dando fim aos restos, apagando mensagens e esquecendo segredos antigos - abrindo espaço para a novidade que eu havia abrigado. passei a desenhar corações no espelho embaçado do banheiro, escrevi seu nome com caneta azul em minha mão, fiz o desenho de seu cabelo em um papel branco que guardei debaixo do travesseiro pra poder dormir em segurança. não posso garantir que não inventei mais uma mentira ou imagem apenas pra passar o tempo enquanto não adormeço. não me conheço tanto assim, apenas me entrego aos riscos na intenção de encontrar algum conforto. o que existe de real é que optei por encurtar o caminho e me perdi, afastando qualquer promessa aconchegante. com o passar dos dias observei a destruição decadente de meus planos pueris. entendi que você nunca existiu em lugar algum além de dentro de mim, onde ficará até que eu mesma me perdoe e me liberte dos estragos. te guardo quente e não deixo ninguém manchar sua reputação, te defendo pelo que me trouxe. sinto-me tola por ter cometido o engano de acreditar em um novo e desejado incêndio, mas não troco esta dor pelo vazio de antes. o não-amor dói, mas doía mais quando eu desconfiava não ser capaz. talvez eu mereça essa gentileza pela metade. encontrei maneiras de viver de longe o amor que suspeitei. adaptei meu corpo e meu olhar, te espio em segredo e espero sem esperar realmente. na prática tudo está igual: a rua, as pessoas erradas, os exageros e a falta de finalidade das noites que sempre terminam. mas te escondi dentro de mim e bem baixinho converso com você e invento suas respostas que, invariavelmente, me fazem sorrir e viver mais. faço de conta que você saiu pra comprar os jornais do dia e se distraiu no caminho, e que há de voltar no meio de uma noite inesperada. o amor é uma violência que combina comigo, por isso nunca desisti de esperá-lo. eu quero o amor que mata.

2 comentários:

Anônimo disse...

Uau, Ivanova!
Que implosão de amor!
Lindo!!!

bjo
Mauricio

Miss Kriptonita disse...
Este comentário foi removido pelo autor.