24/09/2010

no deserto

gostaria muito que palavras, ditas ou escritas, pudessem, de fato, valer alguma mudança. eu realmente estaria salva se pudesse ser eu mesma a minha própria garantia. é expondo que me movimento pra alcançar ou apalpar algum entendimento. enumero diariamente meus segredos e desejos em um pedaço de papel, espalho confissões pesadas e, por vezes, ultrapasso a disposição do outro. devo ser cansativa. a maneira pouco conscienciosa que escolhi de enfrentar o amor e coisas piores não me resulta vitórias e nem me aproxima da vida clara e simples que eu gostaria de exibir. mas não consigo almejar outro modo e muito menos sinto culpa, não assino embaixo de nenhum fracasso. minhas intenções, mesmo quando não passam de equívocos, são inteiras e reais, jamais opto pela metade das coisas e dos gestos. no entanto, ao olhar pra fora encontro muito pouco, me entristeço e volto a nadar sozinha e mal intencionada. tenho rondado o perigoso desejo de querer desistir, mas este, como qualquer desejo, só pode prosperar se nascer naturalmente, e não acredito que tamanha falta tome conta de mim. sei que a desistência talvez fosse uma solução, mas tenho total entendimento de que, para certas coisas, não existem retornos ou desvios. investi muito alto e por muito tempo em ser o que sou, e agora não saberia reconhecer o caminho que me fizesse voltar e recomeçar de outra forma. meus meios são pouco nobres mas minhas razões são genuínas, e confesso que me envaideço por ter dado tão certo o meu plano cego de chegar viva até aqui. mas esta certeza é apenas minha e sem proteções. tento incansavelmente me espalhar e sugerir barganhas, mas falta algo que se encaixe com perfeição, algo que se mantenha comigo e me lambuze dos sentimentos reais que nunca me chegaram. o que me corrompe é a necessidade de precisar dividir calores e felicidade para que estes existam efetivamente, se eu me bastasse talvez nem estivesse agora escrevendo essas desanimadas palavras. esta lacuna não é nenhuma novidade, porém, sempre houve uma esperança vil em encontrar algo que promovesse em mim algum sentido. seja como for, não posso mais me apoiar nisso, não consigo mais disfarçar. mas também não sei desistir realmente. encontro-me agora em um ponto suspenso, onde um ar velho e pesado balança meus cabelos frustrados. o tempo não pára para que eu possa decidir, e além do mais, mesmo que isso fosse possível, eu não iria aceitar porque tenho pressa. não me enxergo nas pessoas que protelam, não acredito ser possível destratar um desejo desta forma, deixando-o para depois. em uma de minhas extremidades existe uma flecha apontando para frente, é o que me orienta. meu caminho é nítido e certo, mas me desamparo ao ter que contar com o que me é alheio. os desejos frouxos e mornos dos que me cercam arrancam-me com violência desta vida que levei a sério. tenho enorme talento para viver, mas preciso admitir que a vida é um deserto com mania de grandeza.

Um comentário:

laura caselli disse...

deserto com mania de grandeza.
é lindo.

tô suspensa também.