23/03/2011

a ponte

a música era bonita e tudo esquentou ao redor. dava pra sentir o coração que saia do peito sem garantia de volta. eram dois. a luz ficava menor e resolveram dançar juntos. fabricavam, a cada passo, um momento inesquecível para pensar depois, antes de dormirem separados. existiam as cores, isso era certo, o resto era imaginação de boa qualidade. a mesa os esperava na volta, a bebida esquentava e a eternidade pedia um minuto a mais de silêncio e vapor. a volta pra casa poderia não existir, era só continuarem, se soubessem como fazê-lo. se soubessem. a compreenção de todas as coisas se tornou algo simples e valorozo, só precisavam aprender a não terminar a dança e aquela noite desigual. mas não estava escrito em lugar algum, iam ter que adivinhar. tinha também uma ponte meio amarelada de velhice, era por ela que haviam passado pra chegar até ali, era por ela também que passariam se não entendessem depressa como ficar, não ir e não voltar. tinha um céu que cobria sem proteger e o ar ventando lá fora, limpando o resto de noite que sem muito sussesso tentavam esticar. as horas realmente não demoram a passar quando mais precisamos delas, quando mais gostamos de cada pedaço do tempo que, sendo, já é também passado. o dia começava a embranquecer e eles ainda dançavam a música que ia ficando longe, dançavam com medo de morrer. uma voz aflita e fria pediu desculpas e ordenou que se retirassem, já não havia mais tempo para decisões inférteis. a ponte estava lá, como um caminho escancarado e cruel. se fossem, morreriam, se ficassem precisariam aprender a não morrer juntos pelos mesmos motivos.

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