07/01/2012

janeiro

procurando em outro lugar o que deveria encontrar em mim, me perdi numa calçada quente de verão. ouvi dizer que algo bom existia lá no fim de tudo, lá onde acaba o resto de cansaço pronto pra desistir, porém já não acumulo esperanças. ouvi um grito esta noite e acordei, pensei que me chamavam, mas era apenas mais um pesadelo não meu, sonho longínquo de quem espera alguma coisa, qualquer coisa. a vontade de sempre é a de fazer tudo em outro lugar, de cometer um delito inédito num futuro que poderia ser hoje. não descanso, não comemoro, não dou voltas em torno de ninguém do qual eu não possa fugir depois. estou às tontas acordando e dormindo num sábado de sol farto de possibilidades que não quero. pensei em contar outra história, mas na curva de agora despenquei como em tantos passados - repetição barata e sem credibilidade. eu poderia estar cantando debaixo do chuveiro e depois sair pra passear, mas me falta o inferno a queimar sem desistência ou retorno, me falta esta febre ir embora e voltar nova no meio das pernas, ao redor e no meio das pernas. que estas vozes que escuto venham o quanto antes assoprar algum calor recente em meu pescoço de pele fina e estrangulada de novidades vãs, que não vão embora, que não partem nunca.